Plaisir et Punition

Abrindo as janelas para que o lirismo vá-se embora, desejo que tivesses me estapeado, cuspido em minhas faces - todas elas! -, que tivesses me dito do tamanho de minha podridão. Que tivesses se matado em minha frente, que me fizesses sofrer, mas que me soltasses, tirasses tua sombra de minhas costas, arrancasses teus bons-modos disfarçados e indiferentes, essas tuas máscaras mortas.
Preferia teu ódio, mulher, teu ódio mais intenso sobre mim a essa pobreza de sentimento.
Tragaste meus perfumes e não disseste nada, somente assististe a meus horrores e agonias sentada ali, naquele mesmo banco sempre.
Gostaria de sonhar-te morta e acordar-me aliviada. Ou sofrida, louca, mas que ao menos com algo a relampejar por dentro.
Como antídoto, quero chupar teus poros um a um, teu sexo, quero pisar-te em lugar fechado, escondido, e de luz mediana. Na escuridão, não me enxergarias a insensatez, os olhos fumegantes - aqueles aos quais elogiavas o brilho -, o sangue a misturar-se com o vinho e arder. Ambiciono tua atenção sobre meu pálido corpo nu, menininha pudica, tuas delicadas mãos ocupadas em penetrar-me, meus gozos a escorrerem e serem engolidos por tua garganta... Êxtase meu em forma de castigo pelas correntes em ouro bem-trabalhado. Deverias ter-me furado os olhos.
Por fim, que morras. Que não em volta de meus braços, mas sob meus pés. E haveria eu de abandonar teu corpo desnudado pelo chão, para o prazer de meus dedos a te navegarem, de tua língua morta em minha boceta. Livre, doce. À dispor.